Whatsapp 1.5x

18 jul 2021☕️ 1 min de leitura

Acho que estou escrevendo apenas mais uma crônica/ensaio sobre a questão de como a tecnologia está nos tornando menos humanos, mais frios, mais robotizados. Mas, não consigo evitar, preciso colocar as palavras no papel, ou na tela.

Até pouco tempo atrás, quando era aniversário de um amigo ou de um parente, eu pegava o telefone e ligava, desejava parabéns, colocava o papo em dia e acabava reforçando um laço humano. Com a tecnologia, as coisas começaram a mudar. Agora no aniversário, recebo/mando mensagens ou áudios pelo Facebook, Instagram, Whatsapp. Sem conversa, sem conexão direta.

Recentemente, algo mais prático ainda: ouvir os áudios que te enviam pelo Whatsapp em velocidade maior, uma vez e meia mais rápido, talvez duas vezes mais rápido. Para quê gastar mais do que alguns segundos para ouvir a voz de um outro ser humano que quer se comunicar com você?

Será isso só um começo, um avanço para um caminho de comunicação em que a conexão de um ser humano com outro possa ser simplesmente evitada? Será que em algum momento só processaremos mensagens sem precisar ler ou ouvir a voz de outro?

Talvez a definição do que é o ser humano simplesmente mude. Nossos valores devem mudar, nossas vidas vão mudando. Mas algo sempre foi fundamental, a conexão humana. Aristóteles falava que o homem é um ser social. Muitos filósofos ao discutir metafísica levavam a definição do ser para um caminho de que apenas reconhecendo o outro e sendo reconhecidos, somos de fato. Mas parece que cada vez mais afastamos esse outro. Aonde iremos parar? Quantos anos mais teremos pela frente até chegar em um ponto que o convívio social se dará meramente por egoísmo, por necessidade de se conseguir algo, e não mais pela simples conexão com outro ser humano? Ou já estamos nesse tempo?

Enquanto isso vou tentando fazer o mínimo para ouvir de verdade aqueles com quem me comunico via a tecnologia. Seus áudios sempre estarão na velocidade 1.0x… ou não.



Mais reflexões:


Escrito por Lucas, programador, bacharel em filosofia, apaixonado por literatura, línguas e música.