Asimov, Tolkien e Universos Ficcionais

07 set 2021☕️ 3 min de leitura

Recentemente li a Trilogia da Fundação de Isaac Asimov e foi uma obra que muito me impactou, não só pelas histórias, mas pelo universo ficcional que Asimov criou. De certa forma, me lembrou muito a sensação de ler Tolkien, ou mesmo Duna de Frank Herbert: uma sensação de estar num lugar diferente, incrível, onde mitos e lendas se misturam com histórias e culturas, fazendo a curiosidade se agigantar querendo saber mais sobre esse universo. Universo esse criado apenas pela mente de um escritor.

Acho que, se eu tivesse lido Fundação no início da minha adolescência, seria tão fã e curioso por esse universo de Asimov como sou pelo universo de Tolkien. Curiosamente, depois de pensar nessa comparação entre os dois autores, me lembrei de ter lido que na década de 60, resolveram dar um prêmio Hugo de melhor série de todos os tempos, e Fundação ganhou justamente do Senhor dos Anéis.

Mesmo tentando retirar da equação o fato de ser grande fã de Tolkien, acho o prêmio injusto. O Senhor dos Anéis me parece uma obra muito mais profunda, bem pensada, ampla e atemporal. Os personagens são muito mais cativantes e memoráveis. Não que os personagens de Fundação não sejam, mas tive a impressão que muitos são parecidos, e o fato de aparecerem por pouco tempo, dado o formato da obra, não contribui para o desenvolvimento mais amplo deles.

Aí entra outro ponto de diferença grande entre O Senhor dos Anéis e Fundação. Enquanto o primeiro foi escrito como uma obra completa, que foi dividida por questões editoriais, contrariando o que o autor gostaria, Fundação foi iniciada como uma série de contos lançados em revista e posteriormente reunido. Isso por um lado traz vantagens, como a leitura dinâmica, rápida e leve, que sem esforço nos leva ao desfecho de cada conto, em épocas diferentes da Fundação. Mas por outro, acaba não gerando, pelo menos para mim, aquele peso de grande épico como no Senhor dos Anéis.

Ainda vejo outros dois pontos diferenciais que percebo entre as obras, e não acho que esses pontos fazem uma ser melhor que a outra, mas pelo menos me levam, pessoalmente, a gostar muito mais da obra de Tolkien. O primeiro é a forma como esse universo ficcional foi criado: enquanto Tolkien realmente criou em sua imaginação e diversos escritos o universo da Terra-Média, desde a criação dos deuses, do planeta, dos seres, passando pelos tempos antigos da Primeira Era, a Segunda Era com o apogeu dos homens de Númenor, até chegar à Guerra do Anel, escrevendo até um pouco comentários sobre o que acontece depois, além de ter criado diversas línguas fictícias e informações geográficas, Asimov parece ter criado o seu universo de forma mais leve, mais orgânica, a medida que pensava no desenvolvimento de suas histórias.

Isso fica claro pelo grande anexo do Senhor dos Anéis, que muita coisa explica, enquanto não vemos nada do tipo em Fundação.

O segundo é uma grande diferença na escrita. Asimov tem um estilo muito leve, acessível, que te prende na leitura e nos faz ler página atrás de página. Tolkien já tem uma escrita mais séria, mas pesada, repleta de descrições, mas, ao mesmo tempo, escrita essa que parece combinar com sua obra e seu universo.

São obras difíceis de comparar, mas obras essas que nos trazem esses universos fantásticos que prendem e nos fazem querer conhecer mais. Além dessas duas obras, O Senhor dos Anéis (e tudo da Terra-Média), e Fundação, deixo a forte recomendação da leitura de Duna, principalmente o primeiro livro, que também traz essa imersão ficcional.

Para aqueles que também gostam de filmes e séries, esse ano (2021) sairá pela Apple uma série de TV da Fundação e também uma nova adaptação de Duna para os cinemas. Além disso, a Amazon ainda tem uma séria baseada no Senhor dos Anéis em produção.



Aqui também escrevi um pouco sobre Tolkien: Tolkien e O Senhor dos Anéis


Escrito por Lucas, programador, bacharel em filosofia, apaixonado por literatura, línguas e música.